Uma escola em São Paulo tem trabalhado para reduzir as barreiras com pessoas com surdocegueira. A Associação Educacional para Múltipla Deficiência (Ahimsa) admite alunos com idades entre 4 e 30 anos. Segundo Shirley Maia, uma das fundadoras da instituição, 785 pessoas passaram pela Ahimsa, que existe desde 1991.
Ela detalha que existem diversos tipos de comunicação para quem tem surdocegueira. Os professores tendem mostrar as alternativas para que a pessoa escolha o método com o qual mais se adapta. Quem nasceu surdo e ficou cego apenas na fase adulta, por exemplo, conversa por meio de Libras tátil, que é quando o interlocutor faz os sinais na palma da mão da pessoa que tem a deficiência.
Há também o método Tadoma, um dos mais complexos, porque exige que o surdocego coloque a mão na boca e no pescoço de quem está falando para compreender a mensagem através da vibração das cordas vocais. No Brasil, Shirley só conhece seis pessoas que dominam bem o Tadoma. Em toda a América Latina, apenas no Brasil e no Uruguai há surdocegos que utilizam a técnica.
— O maior obstáculo é acessar essas pessoas e transformar essa comunicação em uma linguagem simbólica — diz ela. — A principal questão é como se vai conhecer o mundo? Tem que ser pela via do tato, e quem está ao redor precisa ser paciente. Não imaginamos que é possível entender e se fazer presente sem ver e sem ouvir. Quando percebemos essas possibilidades, é muito bonito.
Para quem tem uma criança com surdocegueira na família, o primeiro passo é procurar orientação de uma instituição como a Associação Brasileira dos Surdos e Cegos (Abrasc) ou o Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente.
A americana Helen Keller e sua professora Anne Sullivan foram as primeiras responsáveis por diminuir o mistério em torno da surdocegueira, há cerca de um século. Helen, que ficou surda e cega com 1 ano de idade, aprendeu uma forma de se comunicar aos 7, quando conheceu sua instrutora.
Anne passou mais de um mês ensinando a menina a associar objetos a palavras. Em uma das situações, ela coloca uma caneca em uma de suas mãos e soletra a palavra correspondente na palma da outra mão. Helen ficou frustrada por não entender o significado que chegou a quebrar a tal caneca. A comunicação só foi estabelecida com a ideia de “água”: Anne deixou escorrer o líquido por uma das mãos da menina, enquanto fazia movimentos sobre a outra mão. Desta forma, Helen foi a primeira pessoa surdocega a conquistar um bacharelado, em 1904. Sua história virou filme, “O milagre de Anne Sullivan”, de 1962.